Nasceu um piá!

Nasceu!

Não sabemos claramente

Se negro, rubro, ocre ou anil…

Tornou-se

Jesus, salvator mundi!

Nasceu!

E neste dia estouram fogos, fotos, balas,

Champagnes por aí…

Que grande sentimento coletivo é este,

pintado de vermelho?

O que o choro deste menino desperta em nós?

Ou será que ele nasceu sorrindo?

Perdoai as nossas ofensas!

Diz o pai dele, diz o pai nosso.

Crianças, índios, negros, italianos

Gays, judeus, peruanos, cabo-verdianos…

Plantas, peixes, pássaros…

A quem pediríamos perdão?

Sem demagogia,

O que pode ser diferente,

Da inconsciente repetição?

Montei na minha sala,

Uma pequena árvore de natal.

Não sei por quê!

Uma dúvida semelhante,

Às vezes assola a minha fé.

Gosto das luzes, dos brilhos.

E do Papai Noel,

Cada vez mais fora dos trilhos.

Mas pra quê tanta neve?

E essa roupa nada leve?

Reproduzimos tradições

Sem saber o que representam

Por aí fazem algum sentido?

Cá estou eu, lendo um papel,

Como lê minha mãe

Como lia minha avó!

Gosto disso, como da nota dó,

Uníssona, vibrante,

Que na garganta causa um nó!

De alegria…

Nasceu um menino.

Nesta família nascerá

Uma nova vida!

Bem vinda!

Bem linda!

Há 2013 anos

Nasceu,

E o que,

Por aqui

Aconteceu?

Os embrulhos,

As boas digestões,

As fitas, listras, fritas.

As fatias no salão de festa,

Sem os bolos de chocolate e gente,

Das casas da Tias, das Avós!

Não é uma crítica,

É uma saudade!

As casas são pequenas

E a família cresce a cada dia…

Nasceu mais um!

Para engordar a infância,

A fase dos miúdos!

Curiosamente,

Descobri que infância significa: sem fala!

Como?

Se os pequenos falam, cantam, gemem, gritam?

E porque é que é que não ouvimos?

Algumas tribos indígenas,

Chamam suas crianças de piás!

Piá, do tupi-guarani:

O que vem das entranhas!

O bendito fruto!

Nascem os pequenos,

Os benditos frutos,

De uma longa,

Rápida ou inesperada

Tentação!

Porque proibi-la, meu deus?

Já diria o verso da canção:

“Façamos, vamos amar!”

Nasceu!

Das entranhas,

Coberto de um vermelho vivo

Um fruto bendito

Um piá!

Neste dia, desejo a todos

Muito amor e um sangue

Escarlate, pulsante.

Desejo pra seguir,

pra parir…

Frutos fortes e sinceros!

Aprendamos com os tupis-guaranis

A manter os ouvidos bem abertos,

Para perceber os blablabás,

Entoados pelos piás!

Esses pequenos que falam, choram

Cantam e que podem nos salvar,

Diariamente!

Feliz natal,

Com amor,

Luísa.

25/12/13

Sobre Luísa Bahia

Artista residente em BH, 27 anos. Atriz, cantora, dramaturga, diretora e poeta. Atualmente circula com seu solo teatral RISCO, prepara seu show autoral e conduz oficinas de artes integradas. Investiga a VOZ em seus múltiplos sentidos: som, movimento, palavra, escrita, cena e manifestação da nossa presença no mundo.
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