A paixão

A paixão é um solo de sax, rasgante. É um pedaço de manga, uma bomba, uma nuvem gorda, é meu gozo carimbado na pilastra de mármore. A paixão é a dormência dos órgãos, um sopro gelado, é a carne salgando no asfalto, é secar a boca e encharcar a buceta. A paixão é um pedaço de paz! É cavalgar uma tartaruga, desvendar as leis do tempo e do espaço, é choque, cabelo, corpo sólido, útero azul. Atônita, lambida, eletrizada, a paixão é gota. Suspensão do mundo físico, elucubração acústica, a paixão é um arranjo, um descompasso, é córnea bamba, joelho frouxo, é tigre, pata, mangue, é mistério da espécie. Apaixonar-se é gangorrar entre o assoalho do oceano e a crista da onda em 19 segundos. É deslizar num pavê, olhar o sol sem cegar. É uma jam session com os carros engarrafados, ronronar fantasias na boca do lobo, uma dança das minhas hemácias. É seduzir o homem pregado na parede do metrô. É fome, susto, aquário, abismo. O baixo me penetra, vermelho. Eu choro de velocidade! Coisa de mulher, coisa de bicho. A paixão é um feitiço!

Sobre Luísa Bahia

Artista residente em BH, 27 anos. Atriz, cantora, dramaturga, diretora e poeta. Atualmente circula com seu solo teatral RISCO, prepara seu show autoral e conduz oficinas de artes integradas. Investiga a VOZ em seus múltiplos sentidos: som, movimento, palavra, escrita, cena e manifestação da nossa presença no mundo.
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