santíssima trindade

viver é dádiva

sofrer é dívida

andar é dúvida

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pausa

Mais bonito que o barulho do mar é o silêncio que ele faz! Há uma paz, pequena, que espuma entre uma e outra onda…

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action painting

Ontem eu vi uma obra do artista Pollock e meus olhos ficaram lá! As pestanas abertas, a água escorrendo…
A obra não é o quadro, a obra é pintá-lo. Com a mão, com a tinta, com a madeira, derramando cor, violência, fúria, vontade!
Os famosos action paitings… Uma improvisação, um jazz, um voo livre, um gesto voraz!
Pego esse método, essa linguagem pra celebrar os dias.
Eu não quero a vida.
Eu quero o viver.
Vida a gente pendura no quadro. Eu quero escorregar nos dias com fúria, com tinta, com sangue, com tesão, medo, alegria, esquisitices, e ser fiel a cor necessária, ao impulso mais legítimo.
O que eu quero adiante?

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DERIVA

Um banco de igreja na estação do trem. Uma fila única e uma mulher única sentada, dormindo. Os sonhos embalados pelos trilhos. Passagens esgotadas. Saudade – um bicho que fica quando outro vai embora.

Um grande homem de bigodes, ostentando um chapéu preto, grudado na parede. Faz a vigília da rua. Um mendigo canta uma ideologia pra viver. A jukebox é personagem da via: I’ve got the power! Batata leve custa R$ 0,99 e a cachaça ainda é o remédio contra o tédio. As palavras se tornam paisagens, um balé. Os desejos, pinturas abstratas, tinta a óleo escorrendo.

Uma mulher faz espetos de carne, carne vermelha, gordurosa, de quinta. Enxota um bêbado que quer comer sua xoxota.

I’ve got the power!

O homem vende suas ervas, suas promessas de cura.

Os homens consertam o trilho do trem. Riem. A fagulha da solda quase cega. Riem.

Uma travesti. Brincos, brilhos, fome. Pede dinheiro. A praça parece uma casa e a realidade é cintilante como esmalte. O ritmo é alucinante, feito o som da jukebox. Perceba! Os vidros estão fechados e lá dentro é um aquário, um abismo. Preto, azul, cintilante como os sonhos da mulher. Um gato ronrona fantasias. Cavalos passam apressadamente. Medida de choque. O céu desmancha no meio do dia. Uma mulher dança para o homem pregado na parede. Balança seus longos cabelos negros. A saudade é vermelha.

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PÁSCOA

Dentre tantos lamentos,

algum que pareça prece.

Dentre tantos suspiros,

algum que derreta fácil.

Se a chuva for pouca,

Ao menos, olhos d’água.

Uma nota grave,

Um sonido breve,

Um sinal de paz.

Se o filho for de deus

Um retorno pra partir,

O pão, a dor, o chão.

O cacau não vem de cima,

Quem brotou foi a semente.

Fé para si. Fé e só.

É domingo, manhãzinha.

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RISCO

NA VIDA SE CORRE

              ESCORRE NO PAPEL

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As coisas

Talvez ela esteja ficando velha! Antes ela era tão prática. Agora se demora passeando os dedos pelas letras dos jornais guardados, amarelos, muito amarelos. É como se aquelas coisas fossem trazer as outras coisas de volta. Ela não quer jogar nada fora.Talvez aquelas coisas se tornem indícios. Pistas de fatos, pessoas que com o tempo vão se amarelando dentro da cabeça. A memória vai diminuindo e sobram as coisas. A vista vai diminuindo e sobram as coisas pra passar os dedos. As pernas vão diminuindo o passo, mas restam as coisas pra se debruçar, deitar, dormir. As coisas não a deixam morrer, as coisas.

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ÁGUA VIVA

 

água viva carnaval 2014

foto: Oliver Kornblihtt

todas as moléculas
parecem vibrar
eletricamente
em sintonia orbital
com o mar de gente
em cima embaixo
empuxo em frente!

a coxa roxeia
a bolha estoura
o bloco despenca
a chave some
e a bandeira, branca
pulsa na boca banguela
do tigre de bengala!

a cidade arde e dança
leste, norte, agreste
rueira, sem tarifa.
o povo boia no cardume,
abobalhado, besta
da vista horizontal
que dia a dia só arranha céu.

acabou a brincadeira,
acabou o carnaval!
quem sabe a fantasia
não queima o resto dos dias?
água na boca,
banana no bucho
estrela na vista?

o fluxo contínuo
útil, após útil
segue marchando
concreto, objeto.
a serpentina sobrou
pra confetar a história,
e inventar muitas outras.

adeus a carne. a água seguirá te salgando!

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ESMERILÁ

A brisa vagalumante
vaga na mente
Invasiva, versa na gente.

O rio escorrendo
Correndo esconde
Terra abaixo.

É só.

E o céu lá
Em sol maior
Dizendo que a vista 
Há de ser mais leve,
E a tristeza, breve.

Os planos futuros
Nos panos da mesa,
Os sonhos passados
Dependurando a certeza.

Ih! O varal tá cheio!

O bicho da seda 
Segue vivendo
Sem agradecer a deus
Pela rede
Sem resmungar ao diabo 
Pela sede.

Vive, vivo.
Feito bicho que é.
Como a pedra, 
lasca
A madeira, 
ferpa
E o trovão, 
apaga.

Consolação 
Amola a faca,
Esmerilando o desejo
Precisando o corte.
Tarefa de contrato.

O vento 
Segue agitado,
Sacudindo a mata.
Tocando prosa, 
Querendo verso,
Folhoso.

Se assunta! 

 

O menino bota lenha,
Vermelha logo a fogueira.
Mas o azul é mais forte!
Fogo firme, de norte. 
Denoite late,
O dia nasce
E a brasa ainda lá,
Azulando…

Apitou!
A-MO-LA-DOR
Invém. 

 

 

 

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A granja

É que a causa vale menos que a bandeira.
A conversa muito menos que o partido
Cingido,
Em fração de avos,
Em porção de ovos…
Chocados.

O importante desses tempos é
Questão medida, tingida,
Em cerca, capa,
Em nata, grossa
Abafando o leite,
Torrente, derramente.

A placa, a foto, a pose,
Valem o furo,
Do dedo no bolo.
O mesmo que flecha
Na cara de quem discordou
Ou, simplesmente, bocejou!

Quem come mosca,
Engole sapo!
Malandro é o gato,
Que já nasce de botas.
Água mole tá empedrando.
Pedra dura, evaporando…

A luz é constante
E a gente engorda
Feito pinto na gaiola.
Se o passo desliza
E a certeza tropeça
O galo canta:
Hora do abate!

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