Uma montanha chamada mulher

Nasci em 1989, ano em que o muro caiu.

Esquerda, direita, volver, olha o golpe,

Brasil!

Eu sou um triângulo equilátero vermelho.

Sou um quadrilátero ferrífero em desespero.

Eu jorro leite, diamante.

Não, não me venha com falsas carícias!

Não invada as minhas veias.

Eu sou um colosso, eu gero, procrio,

Se for preciso, mato.

Sem afago, te afogo.

Não me venha com o seu porrete!

Eu fundo revoluções.

Dou cria a lodo, lama, pele, carne, osso, osso.

Não venha tirar o meu caroço!

A terra deu, a terra dá, a terra cria, procria!

Vá embora da minha casa!

Eu vou juntar as minhas pedras, vou fazer uma intifada!

Sai pra lá multinacional!

Quem foi a pátria que te pariu?

Eu não sou sua escrava!

A minha carne é minha!

A minha lavra é minha!

E você só põe a mão se eu deixar!

Não se aposse do meu corpo, seu animalzinho forte!

Eu sou de pedra, sou de rocha, sou de vera,

Vê se me erra!

Eu sou Mariana, tenho 319 anos, não aguentei, explodi.

Eu sou Roberta e fui invadida, maltratada e me fizeram achar que eu estava louca.

Meu nome é Cristal, sou mulher, negra, trans e vou continuar existindo!

Meu nome é Curral e sou Serra só de fachada.

Sou chapada, explorada, estuprada.

Sou pimenta, labareda, silenciada.

Mas também sou pedra de amolar faca!

Arrombo vidraça!

Eu sou vista, paisagem natural.

Existo e não vou morrer de tiro.

Sou hematita, cassiterita, pedra bonita.

Sou o Pico do Itacolomy.

Sou mulher, sou montanha!

Sou mina, minas!

Meu sangue é fertilizante!

Feito pedra preciosa.

Sobre Luísa Bahia

Artista residente em BH, 27 anos. Atriz, cantora, dramaturga, diretora e poeta. Atualmente circula com seu solo teatral RISCO, prepara seu show autoral e conduz oficinas de artes integradas. Investiga a VOZ em seus múltiplos sentidos: som, movimento, palavra, escrita, cena e manifestação da nossa presença no mundo.
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